Descrição de chapéu Rio de Janeiro STF

Bolsonaro usa caso Musk e relatório divulgado nos EUA como combustível para ato

Aliados também querem retrucar 'minuta golpista', pilar da apuração da PF contra ex-presidente

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Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usa como combustível para o ato de domingo (21) o caso que pôs em lados opostos o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro divulgou vídeo na rede social nesta quinta-feira (18), convocando apoiadores para a manifestação, em que destaca a preocupação com "liberdade de expressão".

"No momento em que o mundo todo toma conhecimento de quanto esta ameaçada nossa liberdade de expressão e de o quanto estamos perto de uma ditadura é que eu faço um apelo a você, um convite, no próximo domingo, às 10 da manhã em Copacabana", disse.

O ex-mandatário reforçou o pedido do ato anterior, na avenida Paulista, para que não sejam levadas faixas e cartazes.

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Jair Bolsonaro durante ato na avenida Paulista, em fevereiro - Danilo Verpa - 25.fev.24/Folhapress

O embate de Alexandre de Moraes com Musk é visto como uma vitória para a militância bolsonarista. O empresário ameaçou desbloquear contas suspensas pela Justiça e xingou o ministro de "ditador".

O tema estará no discurso do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que também pedirá para a militância se manter firme.

"Episódio do Elon Musk é combustível para o ato, até mesmo porque ele é defensor da liberdade, independentemente de quem ele seja, deixou de ser ou vai ser. É uma pessoa que está se colocando do lado certo da história, e com certeza vai ser mencionado lá no ato", disse Nikolas.

No mais recente capítulo da disputa, uma comissão do Congresso dos EUA publicou na noite de quarta-feira (17) uma série de decisões sigilosas do ministro do STF sobre a suspensão ou remoção de perfis nas redes sociais. O documento cita 150 perfis removidos da plataforma.

As decisões foram obtidas a partir de intimação parlamentar feita ao X e levou o Supremo a divulgar uma nota. A assessoria da corte afirmou que "não se tratam das decisões fundamentadas que determinaram a retirada de conteúdos ou perfis, mas sim dos ofícios enviados às plataformas para cumprimento da decisão".

Este será o segundo ato pró-Bolsonaro desde que o ex-presidente voltou ao Brasil dos Estados Unidos, para onde foi após perder a eleição em 2022.

O clima, desta vez, é outro. Para interlocutores de Bolsonaro, ele está menos pressionado em comparação com o momento em que houve o ato na avenida Paulista, em fevereiro.

Em fevereiro, o ato foi convocado dias depois de uma operação que apreendeu o passaporte do ex-presidente. Agora, Bolsonaro está viajando em clima de campanha eleitoral pelo país.

Na última vez, interlocutores do ex-presidente entraram em contato com ministros da corte para prometer um ato sem ataques. Desta vez, eles não veem necessidade de conversa.

Isso ocorre pela distância temporal de operações da PF e desgastes no Judiciário. Também porque há o que chamam de aumento de críticas na sociedade civil à atuação de Moraes, em especial impulsionadas na esteira do caso de Musk.

Ainda que o empresário não tenha brigado com o ministro do STF por causa do ex-presidente, o episódio foi visto por aliados como uma vitória para Bolsonaro e sua militância, por desgastar Moraes.

Ainda que a pauta do que chamam de liberdade de expressão esteja em alta, ela não deve ofuscar o principal objetivo do ato: defender o ex-presidente das acusações do judiciário.

Assim, a grande preocupação na manifestação, segundo organizadores, será tentar desfazer o que eles chamam de "maior fake news da história": a minuta de golpe.

A PF investiga documentos que buscavam embasar juridicamente um golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022, por meio de decretação de estado de sítio ou GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

"Será uma continuação do que foi a Paulista", disse o deputado Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), em referência ao ato de fevereiro.

Naquela ocasião, Bolsonaro disse, em seu discurso, buscar a pacificação do país e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023. A estratégica mudou para a próxima manifestação.

"Agora vamos focar nessa suposta minuta do golpe. A gente está achando que o enredo da minuta, essa grande fake news, conseguiu chegar na boca do povo", afirmou. "Até o nosso pessoal começou a escrever ‘minuta de golpe’. Sinal de que colou. Mas nunca existiu isso", completou.

A linha de defesa reforçada nos discursos de domingo será a mesma que Bolsonaro vem usando nos últimos meses: não há golpe se as possibilidades aventadas estão previstas na Constituição; e o texto sequer foi implementado. Ficou só no campo das ideias, e isso não é crime, dizem.

"Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência", disse o ex-presidente no ato de fevereiro.

A apuração da PF sugere que o entorno de Bolsonaro elaborou textos legais e fez reuniões com intuito de impedir a posse do então eleito Lula (PT). A trama culminou com os ataques golpistas às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro do ano passado.

O que aliados do ex-presidente querem é tirar do léxico bolsonarista o termo "minuta de golpe" –o que, para eles, reforça a tese dos investigadores. "Vamos desmistificar essa fake news", diz o pastor Silas Malafaia, organizador do ato.

O religioso será um dos oradores. Também discursarão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os deputados Marco Feliciano (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), e os senadores Magno Malta (PL-ES) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Como no ato anterior, foram convidados governadores de direita: Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Mello (PL-SC) e Romeu Zema (Novo-MG).

Dois que não estiveram na Paulista são esperados: Cláudio Castro (PL-RJ) e Ratinho Jr (PSD-PR). Eles poderão discursar, se quiserem, segundo Malafaia.

Como mostrou a Folha, o evento deve ser usado para ampliar a exposição do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura da cidade. Ele não discursará, mas terá papel de destaque ao lado de Bolsonaro, seu principal cabo eleitoral.

O ato ocorrerá nos mesmos moldes do evento em São Paulo. A expectativa é que dure uma hora e meia. Além disso, serão usados dois carros de som: só um com microfone e o outro levará parlamentares aliados. Faixas e cartazes serão proibidos, assim como ataques diretos ao STF.

A expectativa dos organizadores é que a manifestação seja menor do que a de São Paulo, por não ser a primeira e porque o Rio é uma cidade menor do que a capital paulista.

Deste ato, parlamentares também participarão financeiramente. No último, o desembolso coube apenas a Malafaia. Agora, cerca de 25 deputados e senadores vão desembolsar milhares de reais para alugar a estrutura de domingo.

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